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Transporte Químico

EXIGÊNCIAS RÍGIDAS ELEVAM CUSTOS, MAS GERAM RESULTADOS NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES

O transporte de cargas químicas requer elevada qualificação dos prestadores de serviço, em especial no caso dos granéis líquidos. Acidentes com essas cargas podem afetar o caixa e a imagem pública das indústrias químicas, as maiores interessadas em manter as operações logísticas em patamares elevados de segurança e qualidade. O cuidado com essa atividade também se reflete na elevada (para alguns, excessiva) regulamentação oficial. Esse quadro impõe aos transportadores custos elevados, mas tem alcançado êxito na prevenção de acidentes.

Considerando apenas os documentos oriundos do governo federal, o conjunto de normas e regulamentações relacionadas ao transporte de produtos perigosos vigente no Brasil soma 446 textos, quantidade 22% superior à de maio do ano passado, informa a Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos – ABTLP. Boa parte dessa expansão, afirma José Maria Gomes, presidente da ABTLP e diretor-geral da transportadora QLT, deve-se à necessidade de adequação das atividades à realidade imposta pela pandemia. “Mas desde a promulgação do primeiro decreto, em 1968, a quantidade desses documentos cresce continuamente”, observa Gomes.

Para ele, essa legislação até estimula a atuação de empresas que não seguem as normas à risca. “No transporte de granel líquido, que exige um nível maior de estrutura e de tecnologia, as empresas que atuam sem cumprir todas as normas são minoritárias; mas no transporte de produtos perigosos embalados creio que elas são majoritárias”, aponta o presidente da ABTLP.

De modo geral, essa legislação é adequada, avalia Sergio Sukadolnick, gerente de Relações Institucionais do Grupo Cesari e vice-presidente da ABTLP. E a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), ele destaca, discute a criação de uma categoria específica de registro para o transporte de produtos perigosos. “Hoje há o RNTRC, que registra de forma ampla as empresas de transporte decargas. Mas o transporte de produtos perigosos é uma especialidade, exige knowhow e tecnologias específicas”, ressalta Sukadolnick. “Mas excessos e burocracias devem ser suprimidos dessa legislação; temos conseguido fazer isso, por exemplo, eliminando a exigência de ficha de emergência do produto portada pelo próprio motorista, que gerava abusos como multas porque a ficha não tinha o tamanho correto da margem”, acrescenta.

As normas devem ser acompanhadas por um processo de contínua qualificação dos profissionais: “Temos hoje sistemas de rastreamento, câmeras, controle de velocidade, rotograma falado, sensor de fadiga, aviso de alteração de faixa, entre outras tecnologias que ajudam na gestão durante o transporte. Mas é preciso investir na qualificação ainda mais rigorosa dos condutores e no incentivo, com prêmios, às boas práticas”, recomenda o profissional do grupo Cesari, do qual faz parte a Ceslog, empresa que há mais de 60 anos transporta produtos químicos, incluindo, atualmente, todos aqueles classificados comoperigosos. “Temos uma importante atuação no segmento de transporte de produtos químicos líquidos perigosos, em carretas-tanque. A Ceslog é um dos maiores transportadores do país de itens como cloro, álcalis e seus derivados”, enfatiza Sukadolnick.

Investimento e remuneração – Com as normas, evolui a preocupação dos transportadores com a segurança e a qualidade do transporte de cargas perigosas, observa José Virgílio Evangelista, gerente comercial da transportadora Videira. Preocupação expressa na busca por certificações que a atestem, e em um aparato tecnológico cada dia mais sofisticado. “Cumprir a regulamentação é o mínimo necessário, mas as certificações ISO e Sassmaq, instalação de câmeras, sistemas de monitoramento contínuo, veículos com tempo máximo de uso, manutenções preventivas, dentre outras, são exigências cada dia mais comuns”, diz Evangelista.

O problema, ele ressalta, é que há clientes que exigem esses e mesmo mais recursos, mas na hora de avaliaros preços fazem comparações com empresas que não atendem a esses critérios, e tornam o valor do frete o critério único de seleção. “Existem empresas que continuam operando sem requisitos mínimos, mas cumprem a legislação, e se permanecem no mercado é porque existem contratantes que não exigem deles a necessária evolução”, enfatiza Evangelista.

O transporte de granéis químicos líquidos realmente exige operações dotadas de tecnologias e de profissionais qualificados, destaca Paulo Ricardo Ossani, diretor-executivo da Transportes Cavalinho (empresa especializada no transporte de granéis químicos destinados a diversos setores industriais). Entre as tecnologias, ele cita a telemetria que, “já em um nível muito avançado”, permite não apenas o monitoramento do veículo e do modo como ele é conduzido, mas também faz determinações claras sobre direção segura e econômica. “A utilização de câmeras e sistema de gravação auxilia nos processos de avaliação de condução, bem como na avaliação de quaisquer ocorrências”, complementa Ossani.

Gestão e integração – Até porque o país viveu nos últimos tempos “experiências amargas” de dependência de insumos químicos importados, paulatinamente, prevê Gomes, da ABTLP, a indústria química brasileira retomará um ritmo de investimento mais intenso em sua estrutura produtiva. “A regulamentação do marco regulatório do gás pode contribuir bastante para isso, aqui o preço do gás reduz muito a competividade da indústria química”, argumenta.

Sukadolnick: Integração de serviços para atender clientes.

Em segmentos como o dos fertilizantes, ele ressalta, já é perceptível esse movimento de retomada dos investimentos em produção. “Mas essa indústria trabalha com produtos de menor valor, temos maiores dificuldades nos mercados de produtos de valor mais elevado”, ressalta Gomes.

A empresa que ele dirige – aQLT, antiga Quimitrans – atua mais intensamente nos mercados de energia (principalmente com biodiesel), insumos para cosméticos e glicóis.

E se estrutura para ampliar seu share de mercado, oferecendo, além do transporte, serviços como gestão de estoques, movimentação in house dos materiais, frotas cativas. “Já temos tratativas para oferecer esses serviços, mas esse é um mercado disputado por grandes players, alguns dos quais já fazem isso, e queremos agregar diferenciais à nossa oferta”, afirma Gomes.

Por sua vez, a Ceslog, além demanter uma estrutura que, com dezessete filiais, lhe confere presença nacional, integra todas as modalidades de transporte: rodoviário, ferroviário, hidroviário, navegação de cabotagem. Disponibiliza também os serviços de movimentação de contêineres e isotanques, e de armazenagem de produtos. “A integração dessas várias vertentes – movimentação de contêineres, transporte multimodal, armazenamento – é um diferencial nesse mercado tão competitivo, permite oferecer aos clientes uma solução planejada de forma a alcançar o melhor custo/benefício”, ressalta Sukadolnick.

Ele crê que fatores como o elevado preço local da energia aumentarão a participação produtos importados no total de cargas perigosas transportadas no Brasil no decorrer deste ano, principalmente, pela demanda do setor agropecuário, muito dependente de insumos importados. “Mas também há crescimento na demanda interna por produtos químicos. E creio que, no total do ano, transportaremos um volume pelo menos 5% superior ao do ano passado”, projeta o profissional do grupo Cesari.

A Videira, afirma Evangelista, registrou nos últimos quatro anos um crescimento médio anual de 15%. “Para este ano, projetamos um crescimento ainda maior: pelo menos 20%”,afirma o profissional dessa empresa sediada em São Bernardo do CampoSP, com filiais em Três Lagoas-MS e Uberaba-MG e uma plataforma de operações em Paranaguá-PR, que transporta principalmente granéis líquidos para diversos mercados. “Ainda não fazemos integração de modais, até porque no Brasil o transporte rodoviário ainda predomina no segmento de produtos líquidos perigosos, pois há carência de modais como ferrovias, cabotagem, hidrovias.

E o risco desses produtos em outros modais é muito elevado, exige estudos muito criteriosos para a implementação, mas avaliamos possíveis oportunidades”, destaca Evangelista.

A Videira já mantém contratos com alguns clientes com os quais define níveis mínimos e máximos de estoques de produtos e, por meio de telemetria, gerencia esses estoques, providenciando a reposição quando necessário. “Esses contratos ainda são minoria, menos de 20%, em nosso caso, mas é uma tendência que deve se expandir”, ressalta Evangelista.

Segundo ele, cerca de 70% dos mais de 350 cavalos mecânicos da frota da Videira contam com um pacote de segurança que, além das soluções com as quais saem das montadoras, inclui recursos como frenagem autônoma, alarme contra mudança de pista, sistema de frenagem anticanivete (que evita que a carreta forme um “L” com o cavalo em caso de frenagem brusca), sistema de detecção de veículos no ponto cego, entre outros.

A central de gerenciamento da empresa monitora continuamente informações como limite de velocidade em pista seca ou molhada, e frenagem brusca, além dos dados de controle da jornada do motorista. “Evoluiu bastante a tecnologia, tanto a embarcada nos equipamentos de transporte, quanto na gestão e no monitoramento desses equipamentos. Mais difícil hoje é encontrar profissionais qualificados para operar essa tecnologia toda”, observa Evangelista.

Assim como a Videira, também a Cavalinho ainda oferece apenas o transporte rodoviário, porém, de acordo com Ossani, estuda a implementação de projetos multimodais de transporte. E também cuida da gestão dos estoques de produtos de alguns clientes. “Esse serviço ainda não é muito utilizado, até porque vários clientes trabalham com mais de uma transportadora, mas vai crescer”, prevê Ossani. Ele nota, nesse primeiro semestre, um movimento “bem interessante” na demanda por transporte de granéis químicos líquidos. “Mas há um aumento de custos, de forma abrupta, que creio nunca ter presenciado no setor.

Isso exige a busca de alternativas muito rápidas para a manutenção do resultado”, diz o diretor da Cavalinho. Gomes, da ABTLP, ao detalhar esse aumento dos custos, informa que alguns modelos de caminhões estão 40% mais caros do que no final de 2019. “Nesse mercado hoje é preciso oferecer tecnologias como identificadores de RFID, trackers, roteirização e mapas inteligentes. Essas tecnologias precisam inclusive ser integradas e demandam uma estrutura interna bastante robusta. Tudo isso requer investimento, que também impacta em nossos custos”, salienta.

CADEIA PRODUTIVA UNIU FORÇAS PARA REDUZIR NÚMERO DE ACIDENTES EM 75%
O transporte de produtos químicos, em especial dos granéis líquidos, é o primeiro elo da cadeia produtiva na direção dos consumidores, por isso e por se tratar de substâncias perigosas essa atividade é tratada como prioritária pela indústria química. Todos os esforços são feitos para evitar acidentes e, quando necessário, mitigar danos (veja mais sobre este aspecto na seção Meio Ambiente desta edição). “Em todo o mundo, busca-se uma aproximação entre os produtores químicos e os transportadores com o objetivo de alcançar os padrões mais elevados de segurança e qualidade”, comentou Luiz Shizuo Harayashiki, gerente de gestão empresarial da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Trata-se e atividade muito bem regulamentada, que exige investimentos e qualificação elevados, além de receber acompanhamento constante. “Apesar das exigências severas, não sentimos redução da oferta de serviços logísticos, há uma estabilidade, pois registramos entre 700 e 900 unidades, certificadas no Sassmaq ao longo dos últimos quatro anos”, relatou Shizuo.

O perfil dos transportadores certificados no Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade (Sassmaq, criado em 2001), da Abiquim, registra a presença majoritária de grandes e médias companhias, mas também há pequenas empresas logísticas listadas.

O Sassmaq opera os módulos rodoviário e de estações de limpeza de tanques, ambos com metodologia consolidada e larga experiência. “Já está pronto e aguardando o momento para ser lançado o módulo que avaliará a qualidade e a segurança de terminais para contêineres e isocontêineres químicos, elaborado com base em normas internacionais e com apoio técnico dos nossos associados”, comentou Shizuo. Além disso, está em estudos a ampliação do escopo do módulo das estações de limpeza, bem como avançar para um módulo de armazenagem química.

Essas evoluções são necessárias para acompanhar a dinâmica do mercado. Como explicou Shizuo, as empresas de transporte estão a cada dia assumindo mais funções para melhor atender aos seus clientes. Mas isso também exige acompanhamento rígido por parte da indústria.

A concentração de esforços no setor rodoviário se explica pelo predomínio desse modal de transporte sobre os demais no que se refere às cargas químicas. “Mais de 80% dos produtos químicos que saem das indústrias do Brasil seguem pelo modal rodoviário, uma situação diametralmente oposta da que se verifica nos Estados Unidos, por exemplo, onde as operações a grandes distâncias são atendidas por ferrovias, navios ou dutos”, comentou. “Lá, os caminhões dominam os transportes de curta distância, complementando a matriz logística.”

Há cinco anos, a Abiquim apresentou ao governo federal um estudo complexo que relacionou 70 pleitos para reduzir custos e aumentar a segurança dos transportes do setor. A lista abrange desde a melhoria na conservação das rodovias até a diversificação dos modais, com investimentos em ferrovias e portos.

“Estamos animados com o lançamento do Plano Nacional de Logística 2035 pelo ministro Tarcísio Gomes de Freitas, com forte direcionamento para a ampliação dos modais ferroviário e aquaviário, uma reivindicação antiga não apenas do setor químico”, considerou. O PNL 2035 está em fase de consulta pública que pode ser acompanhada em:

https://www.gov.br/participamaisbrasil/plano-nacional-de-logistica-pnl-2035

Shizuo explica que o uso mais intenso de ferrovias, dutovias e navios terá impactos positivos econômicos, mas também ambientais. “O uso das rodovias para transporte de carga em longas distâncias não é ambientalmente correto, emite uma quantidade muito grande de CO2 que seria reduzida substancialmente com o uso de outros modais”, ressaltou.

Na atual configuração logística brasileira, o custo de se transportar um contêiner de Salvador-BA para São Paulo-SP é mais alto do que trazer o mesmo contêiner de Xangai para Santos-SP, segundo o gerente de gestão empresarial. “Esperamos que isso mude, aliás, a Abiquim tem longa parceria com a Empresa de Planejamento e Logística, autora do PNL 2035”, informou.

Alguma coisa começou a melhorar. Segundo Shizuo, o atraso para atracação nos portos brasileiros (demourrage) caiu de 20 a 25 dias para 3 dias, em média, com forte redução dos custos com multas. “Isso foi obtido mediante um longo trabalho realizado pela Abiquim e os operadores portuários”, comentou. O trabalho de descarga dos navios recebeu modificações que agilizaram o processo.

Cuidado na estrada – Dada a prevalência do modal rodoviário, o Sassmaq busca selecionar e qualificar transportadores, mas também indicar soluções para alguns pontos críticos. A estrutura geográfica do mercado químico, com três grandes polos produtores (São Paulo, Camaçari-BA e Triunfo-RS) e uma concentração de consumidores na região Sudeste, exigiu definir as rotas de transporte mais seguras e eficientes, recebendo mais atenção por parte dos envolvidos. “Dentro do Sassmaq, são conduzidas até discussões sobre essas rotas, com o objetivo de reduzir o risco de acidentes”, comentou Shizuo. A maior frequência de cargas está no eixo entre Bahia e São Paulo, passando por Minas Gerais, este considerado o trecho mais crítico, pela necessidade de transpor muitas serras, com aclives, declives e curvas acentuadas.

Ao lado desse esforço, desde 2005, a Abiquim mantém com o Sest/Senat e outras entidades setoriais o programa Olho Vivo na Estrada, um sistema de gerenciamento de riscos com foco no comportamento humano. “Esse programa conta com a participação dos motoristas que ficam atentos ao modo como os demais conduzem seus veículos em cada trajeto, relatando erros e desconformidades”, comentou Shizuo. “Com base nas informações coletadas, são tomadas atitudes corretivas e estabelecidos treinamentos específicos.”

A Abiquim e o Sest/Senat estão desenvolvendo um módulo de web aulas pelo qual os motoristas acompanharão as exposições de qualquer lugar, com acesso direto a tutores ou monitores para permitir a resposta imediata a eventuais questionamentos. “Os motoristas pediram isso, às vezes eles ficam com dúvidas e precisam saná-las na hora”, explicou. Já estão disponíveis cursos de atualização de forma presencial nas dependências do Sest/Senat e de transportadoras, ou em salas estabelecidas para esse fim, usando a internet.

A soma de todas as iniciativas gera resultados positivos. O programa Atuação Responsável, estabelecido no Brasil em 1992, monitora o desempenho da indústria química em aspectos relacionados ao meio ambiente, saúde e segurança. Entre 2006 e 2019, com base em dados oficiais auditáveis, as empresas efetivamente associadas à Abiquim – portanto aderentes ao Sassmaq – verificaram a redução de 75% do número de acidentes no transporte rodoviário de produtos químicos por 10 mil viagens realizadas. Além disso, o consumo de óleo diesel por tonelada transportada caiu 34% entre 2007 e 2019 (de 8,43 para 5,55 litros/t), com reflexo direto nas emissões de CO2. “Esses indicadores melhoraram como resultado do esforço conjunto da indústria e dos transportadores; isso é muito positivo e segue as orientações mundiais do setor”, concluiu Shizuo, salientando que os relatórios do Atuação Responsável são enviados para o Conselho das Associações Químicas (ICCA), que coordena o programa em âmbito global.

Fonte: Revista Química e Derivados