Temer coloca advogado no Ministerio do Trabalho
Em uma escolha para tentar dissociar o PTB do Ministério do Trabalho, após sucessivos escândalos desde que o partido assumiu o controle da pasta, no início do governo de Michel Temer, o presidente dará posse hoje ao novo ministro, de perfil considerado técnico: o advogado e desembargador aposentado Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello.
A cerimônia de posse foi marcada para as 15 horas. Vieira de Mello assume após uma interinidade a jato do titular da Casa Civil, Eliseu Padilha, que foi nomeado para o comando da pasta na noite de quinta-feira.
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mello foi vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da Terceira Região, em 2008/2009. Ele era consultor do escritório de advocacia Sergio Bermudes, que possui entre os diversos sócios a mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Guiomar Mendes. Ao Valor, o ministro negou influência na escolha.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que escolha não passou pela política". "O presidente consultou vários amigos e lhe foi o sugerido o nome deste mineiro", disse. Ele acrescentou que o governo não teme conflitos de interesse pela atividade de advogado de Vieira de Mello.
Na semana passada, o então ministro Helton Yomura, do PTB, foi afastado do cargo - e, em seguida, pediu demissão - por determinação do STF, porque estava sendo investigado na Operação Registro Espúrio da Polícia Federal. O cargo de secretário-executivo, o segundo na hierarquia, está vago desde a prisão, há um mês, de Leonardo Arantes, também indicado pelo PTB. Ambos são investigados pela Polícia Federal no esquema de fraudes em registros sindicais no ministério. Desde o início do governo Temer, em maio de 2016, a pasta ficou sob o controle do PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no mensalão.
Um auxiliar do presidente disse que assim que estourou o novo escândalo na pasta, Temer determinou que fosse feita uma espécie de "faxina". Segundo esse interlocutor, a prioridade agora é a escolha do novo secretário-executivo, que é o gerente do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), um fundo de centenas de bilhões, responsável pelo pagamento do seguro-desemprego e abono salarial.
O novo titular do Trabalho é irmão do ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, que é uma das vozes do Judiciário contra a reforma trabalhista e a terceirização.
Vieira de Mello teve sua primeira reunião com Temer ontem, acompanhado do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. "Ele tem um bom relacionamento com a CNI, é um técnico, não ligado a partido político, e fará um bom trabalho pelo lado do empregador e pelo lado do trabalhador", disse Andrade ao Valor.
O ex-presidente da Força Sindical de Minas Gerais e coordenador do núcleo sindical do PSDB, Rogério Fernandes, que lidou com Vieira de Mello quando este era desembargador do TRT, diz que ele "sempre soube mediar conflitos de uma forma equilibrada". Para o sindicalista, o governo Temer consegue "uma reserva moral" com a escolha. "Esse governo já acabou, não sei como conseguiram levar uma pessoa que goza de respeito."
FONTE Valor Economico