Participação das mulheres no setor de transportes em Minas Gerais está abaixo da média nacional
Fonte: Diário do Comércio – (25/07/2025)
Segundo dados do levantamento feito pela CNT, a participação feminina no setor em todo o Brasil foi de 18,89% em 2024
O setor de transportes registrou 297.872 vínculos empregatícios ativos em Minas Gerais no ano passado. Dentre eles, 82,6% eram de homens e 17,4%, de mulheres no Estado. Conforme os dados do levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a participação feminina em Minas está abaixo da média nacional (18,89%).
A pesquisa, feita com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego, demonstra que o Estado encerrou 2024 com 51.880 mulheres e 297.872 homens atuando no setor de transportes. Já no Brasil, dos 2.821.899 vínculos empregatícios, 2.288.893 eram de homens e 533.006, de mulheres.
A coordenadora do Núcleo de Belo Horizonte e Região da Comissão de Jovens Empresários e Executivos do Transporte Rodoviário de Cargas (Comjovem), Ana Paula de Souza, relata que a participação das mulheres vem evoluindo nos últimos anos. Ela lembra que o cenário, há 20 anos, era diferente do atual, com o transporte sendo considerado como uma atividade exclusivamente masculina.
Além disso, as condições eram menos propícias para a atuação feminina no setor, exigindo muita força física para realizar algumas ações do dia a dia na estrada. Para a dirigente, existiam muitas barreiras técnicas, enquanto, hoje em dia, a dificuldade está relacionada a questões culturais. “Hoje, nós temos direção hidráulica e câmbio automático nos veículos, entre outras tecnologias, e muita infraestrutura de apoio”, diz.
Ela destaca que a diferença de Minas Gerais para as demais regiões não é muito grande. O Estado pode até não ser o grande destaque positivo quanto à equidade de gênero no setor, mas também não está entre os casos mais preocupantes do país. “Existem políticas que estão sendo trabalhadas para mudar essa realidade, e eu acredito que Minas Gerais, em breve, estará dentro da média nacional”, pontua.
O estudo da CNT ainda mostra que 17,47% das mulheres possuem de seis a 11,9 meses de trabalho; logo em seguida aparece o grupo de 12 a 23,9 meses, com 17,13% do total em Minas. No caso dos homens, a maioria (16,17%) já possui 120 meses ou mais, seguido daqueles com 12 a 23,9 meses de emprego (15,51%).
Além disso, das 51.880 mulheres que atuam no setor no Estado, 28,81% possuem entre 30 e 39 anos de idade; outras 22,68% estão na faixa etária entre 40 e 49 anos. Por outro lado, a maioria (27,43%) dos homens no setor tem de 50 a 64 anos, seguido do grupo com 30 a 39 anos, com 24,53% do total.
Ações para ampliar a participação das mulheres no setor de transportes
Ana Paula de Souza avalia que muitos estigmas estão sendo superados, principalmente com a adoção de políticas ESG nas empresas do setor de transportes. Ela afirma que esses esforços estão resultando na atração de mais mulheres para essa atividade ainda dominada pelos homens. Em alguns casos, as empresas têm ampliado de cinco para 80 mulheres em seu quadro de funcionários, em um período de três anos.
“Nós temos visto várias empresas adotando essas políticas ESG e essas mudanças na cultura. Isso tem se transformado em vagas ocupadas por mulheres”, afirma.
O levantamento realizado pela CNT demonstra que o grupo com Ensino Médio completo é superior aos demais, tanto entre as mulheres quanto entre os homens. Dentre as mulheres mineiras que trabalham no setor de transportes, 60,55% possuem esse grau de escolaridade, contra 60,09% entre os homens. No Brasil, o cenário é de 63,85% dos homens com Ensino Médio completo, contra 60,98% das mulheres.
Além de coordenar o Núcleo da Comjovem em Belo Horizonte e Região, Ana Paula de Souza também é gestora de operações da AD Souza Transportes e Logística. Segundo a dirigente, a maioria das mulheres atua na área administrativa das empresas de transporte, com menos participação na área operacional e nos cargos de liderança. “As mulheres ocupam apenas 3% ou 4% dos cargos de liderança. Essa participação é muito menor que os 17,4% observados em termos gerais”, acrescenta.
Ela ressalta que o tema da equidade no setor tem como objetivo proporcionar oportunidades iguais para homens e mulheres, respeitando as diferenças e reconhecendo as dificuldades que ainda existem. Para a especialista, temas como o fim do tabu envolvendo a licença-maternidade e a melhoria na infraestrutura são fundamentais para garantir condições iguais para ambos.
“Nós ainda temos muitas dificuldades em relação à infraestrutura no Brasil, com relação ao ponto de parada de motoristas, por exemplo. Muitas mulheres chegam em determinados embarcadores que não possuem banheiro feminino ou cujo banheiro está inadequado para uso”, relata.
Ana Paula de Souza ressalta que a participação das mulheres vem crescendo, mas ainda necessita de muitas adaptações e de políticas ESG para mudar o ambiente e torná-lo propício para que as mulheres possam assumir ainda mais cargos de lideranças ou na área operacional das empresas.
A expectativa, segundo a dirigente, é que os próximos anos sejam de mudanças, com mais participação de mulheres também nas comissões e demais entidades do setor de transportes. “Nós precisamos de mais representatividade das mulheres”, completa.