Para analistas, alimentos provocam aceleracao de previa do IPCA em abril
A permanência dos alimentos in natura em nível elevado e a escalada dos combustíveis frustraram expectativas de que a inflação no varejo desaceleraria já na primeira quinzena de abril, mas a alta é vista como pontual. Segundo a estimativa média de 33 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) subiu de 0,54% em março para 0,67% neste mês.
As projeções para a prévia da inflação oficial, que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão desde alta de 0,52% até 0,78%. Em 12 meses, o IPCA-15 vai ultrapassar a meta de 4,25%, ao aumentar de 4,18% para 4,66%, mas ainda ficará dentro do intervalo de tolerância do Banco Central. De acordo com economistas, esse patamar é passageiro e, em junho, o índice já terá voltado a rodar abaixo do alvo central.
Os alimentos perderam fôlego nas primeiras duas semanas de abril, mas em intensidade mais fraca do que o previsto, afirma Leonardo França, economista da Rosenberg Associados. Ao mesmo tempo, a pressão dos combustíveis superou as projeções iniciais da consultoria, diz ele. Estes dois fatores são as principais explicações para a alta de 0,66% estimada para o IPCA-15, ou 4,65% em 12 meses.
Com peso de cerca de 25% no indicador, o grupo alimentação e bebidas aumentou 1,09% na prévia deste mês, estima França, pouco inferior à alta de 1,28% registrada na medição anterior. A oferta do feijão já foi regularizada após a quebra de safra da leguminosa, aponta o economista, mas os itens in natura continuaram pressionando a inflação.
Em seus cálculos, os tubérculos, raízes e legumes ficaram 14,21% mais caros no mês atual, depois de já terem subido 14,17% em março. "Choveu mais que o previsto em alguns locais e isso acabou afetando os preços", diz França, para quem o subgrupo já deve mostrar arrefecimento maior no IPCA fechado do mês, e entrar em deflação em maio.
Os transportes devem ser a segunda maior influência positiva no IPCA-15, ao acelerarem de 0,59% para 0,85%, acrescenta o economista da Rosenberg. Neste setor, o impacto deve vir dos combustíveis para veículos, que aumentaram 2,55% em suas estimativas, como reflexo da alta do petróleo no mercado internacional e, também, da depreciação do real em relação ao dólar. "Daqui para frente, os reajustes nas refinarias, quando ocorrerem, serão todos para cima", disse.
Para a equipe econômica do Santander, o avanço esperado de 0,70% da prévia da inflação em abril é resultado da piora do clima, que elevou os preços de alimentos, e do aumento de tarifas administradas, na esteira dos reajustes de algumas distribuidoras de energia elétrica e da alta da gasolina e óleo diesel. "O índice acumulado nos últimos 12 meses deverá subir para 4,60%, movimento que será revertido nos próximos meses, em nossa opinião", comentam os economistas do banco, em relatório.
No cenário da Rosenberg, a inflação anualizada alcançará seu pico, de 4,98%, nos 12 meses encerrados em abril, mas voltará a correr abaixo de 4,25% em junho, terminando 2019 com alta de 3,9%. "Os choques de alimentos são de curto prazo e já conseguimos prever arrefecimento nos próximos meses. O único choque mais persistente é o de combustíveis", afirma França.
Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong, destaca que alimentos e combustíveis devem responder por 0,55 ponto percentual da taxa de 0,71% prevista para o IPCA-15 deste mês. Na contramão, outros componentes, como serviços e bens industriais - cuja trajetória é mais relacionada ao ciclo econômico e à política monetária -, devem mostrar dinâmica completamente diferente.
Os serviços, por exemplo, devem ter subido 0,34% no IPCA-15 de abril, o equivalente a 4% em 12 meses, calcula o economista. Como a inflação deve seguir refletindo a fraqueza da atividade econômica, o Banco Central poderia reduzir os juros para estimular a economia, mas a piora do ambiente político e as incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência inspiram cautela, diz ele. Assim, o mais provável é que a taxa Selic continue em 6,5% ao ano até dezembro, avalia.
FONTE Valor Economico