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O biodiesel ficou caro: alta de 98% em cinco anos acende alerta no transporte

Custo do biocombustível quase dobrou entre 2020 e 2025 e começa a impactar diretamente frotistas e transportadoras

O avanço do biodiesel na matriz brasileira tem impulsionado discussões sobre qualidade, eficiência e, sobretudo, preço. Dados levantados pelo Gasola by nstech mostram que, entre 2020 e 2025, o diesel comum encareceu 57%, com aumento de R$ 2,19 por litro, acompanhando o movimento global dos combustíveis. No mesmo período, o biodiesel registrou uma alta ainda mais expressiva: quase 98%.

A elevação ocorre em um momento em que o percentual obrigatório de mistura também cresce. A partir de agosto deste ano, o Brasil passou a adotar 15% de biodiesel no diesel, após decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). E a meta anunciada pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, durante evento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em Brasília, é chegar a 25% nos próximos anos.

Para o especialista em combustível do Gasola, Vitor Sabag, a equação é clara: o biodiesel custa mais caro por litro do que o diesel vendido pela Petrobras. “Quando aumenta a proporção, é natural que o preço final suba. Não significa que o biodiesel seja o vilão, mas que seus impactos precisam ser considerados, especialmente para quem roda muito”, diz. Ele destaca que a transição energética exige previsibilidade e diálogo com o setor para evitar distorções de custo que comprometam a competitividade do transporte rodoviário de cargas.

Dependência do óleo de soja

A pressão sobre os preços também reflete a estrutura produtiva. Embora o biodiesel possa ser fabricado a partir de diferentes matérias-primas, a indústria brasileira ainda depende majoritariamente do óleo de soja — insumo sensível à volatilidade agrícola. Com a demanda crescente, aumentam os custos de produção, logística e armazenagem, deixando o biocombustível mais caro do que o diesel fóssil.

O cenário preocupa um setor cuja frota possui idade média de 18 anos, segundo a CNT. “Muitos caminhões antigos não estão totalmente preparados para misturas mais elevadas, o que traz riscos técnicos e financeiros”, afirma Sabag. Ele compara o Brasil com a Europa, onde o uso de biodiesel é integrado a uma política mais ampla que combina biocombustíveis avançados, combustíveis sintéticos, eletrificação e programas de renovação de frota.

Apesar dos desafios, Sabag avalia que o Brasil tem vantagens competitivas para avançar nessa agenda. O país é um dos maiores produtores mundiais de matéria-prima para biodiesel, possui cadeia estruturada e um programa de mistura obrigatória que garante previsibilidade. “O biodiesel é parte da solução, não o caminho único. O ideal é combiná-lo a outras tecnologias limpas e políticas de suporte que garantam compatibilidade técnica e sustentabilidade econômica.”

Na avaliação do especialista, o desafio macroeconômico é tornar o biodiesel competitivo sem pressionar ainda mais os custos logísticos do país — que depende do modal rodoviário para transportar 70% das mercadorias. “O Brasil tem potencial para ser protagonista global em combustíveis renováveis, desde que consiga alinhar transição energética, competitividade e segurança operacional”, diz.

Fonte: Transporte Moderno / Foto: Divulgação