Fiat substitui comando no Brasil e anuncia terceiro turno no Nordeste
A criação do terceiro turno de trabalho na fábrica da Fiat Chrysler em Goiana (PE) era uma das notícias mais esperadas, não apenas pelos trabalhadores e fornecedores da montadora, como por toda a populacao da região. Mas a maior novidade foi trazida da Itália pelo presidente mundial do grupo, Sergio Marchionne : a substituição no comando da companhia no Brasil e na América Latina.
Em entrevista após os discursos que anunciaram a ampliação das instalações na unidade pernambucana, Marchionne anunciou que a região passa a ser comandada pelo italiano Antonio Filosa. O executivo substitui o brasileiro Stephan Ketter. A mudança será imediata.
Ketter regressará à Europa para continuar trabalhando como responsável pela manufatura mundial da companhia, um cargo que ele acumulava desde que assumiu a presidência da Fiat Chrysler no Brasil e América Latina , em novembro de 2015.
Filosa já conhece a empresa e a região há muito tempo. Aos 44 anos de idade, é considerado um dos destaques da safra de novos talentos dentro da companhia. O executivo nascido em Nápoles começou a trabalhar na Fiat há 18 anos. Antes de assumir a nova função, ele era presidente da Fiat Chrysler (FCA) na Argentina. Anteriormente, morou no Brasil, onde foi diretor de compras para a América Latina.
Ketter chegou em meio à crise e teve que administrar a operação de uma nova fábrica em um momento de turbulências políticas e econômicas. Em toda a companhia, o executivo reorganizou áreas e trocou diretores.
Já Filosa assume em um momento de recuperação, quando a fábrica de Pernambuco se estrutura para funcionar a toda carga. Mas, pela frente, o executivo terá de enfrentar uma mudança de gestão importante na companhia, com a saída de Marchionne, que vai se aposentar este ano.
Ao lado do presidente Michel Temer e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Marchionne anunciou sexta-feira o terceiro turno de produção em Goiana. Até o fim do ano, serão contratados 1,5 mil novos funcionários, considerando as 16 empresas que operam no parque de fornecedores.
No ano passado, 179 mil veículos foram produzidos no polo automotivo da Fiat Chrysler em Goiana. Com o terceiro turno, a fábrica avançará para plena capacidade, que é de 250 mil veículos por ano. Ao mesmo tempo, o número de trabalhadores do polo sobe para mais de 13,6 mil, sendo 4.850 colaboradores na fábrica automotiva Jeep, 5.660 no parque de fornecedores e outros 3.100 terceirizados.
Marchionne disse que o governo brasileiro precisa de uma abordagem econômica mais aberta e abraçar as oportunidades de exportação. “Esse país historicamente é insular. Não deveria dizer o que governo deve fazer, mas [eles] precisam usar as multinacionais para navegar nesse processo”, afirmou.
“Acredito no Brasil, o suficiente para ter investido R$ 20 bilhões nessa unidade. Acredito que vamos sair dessa e vamos sair bem”, disse Marchionne, quando questionado sobre seu grau de otimismo em relação à economia brasileira.
Apesar do tom otimista, o executivo se mostrou preocupado com dar vazão à capacidade produtiva excedente no Brasil, diante de uma possibilidade de recuperação lenta do mercado. Segundo ele, isso “vai levar um tempo”. “O mercado era de 3,6 milhões de carros em 2013. Perdemos 40% desse mercado, o que deixou a disponibilidade para produção para o mercado externo”.
“Quando a economia estava bem na América Latina, cinco ou seis anos atrás, o país estava muito interessado na demanda interna e no consumo interno”, afirmou, Marchionne. “É preciso acordos bilaterais, que nos abracemos com o México de forma mais intensa, que o Brasil assuma uma posição de liderança para unir os países da América do Sul. O potencial é grande”.