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A deterioração das rodovias

Levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte mostrou que mais da metade dos 108.863 quilômetros de rodovias pavimentadas possuem problemas.

A qualidade das rodovias brasileiras piorou ainda mais no último ano, como mostra a 23.ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias 2019, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em parceria com o Serviço Social do Transporte (Sest) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). A situação é preocupante, porque o estado da malha rodoviária há muito é ruim e esse estudo indica que ela continua a se deteriorar.

O que é particularmente grave, porque o modal rodoviário é de longe o mais importante da matriz de transporte brasileira, responsável por 61% da movimentação de mercadorias e 95% da de passageiros. Dos 108.863 quilômetros de rodovias pavimentadas pesquisados, mais da metade (59%) apresentou problemas, ante 57% em 2018. Piorou a situação do pavimento (52% com problemas), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%).

Os números da avaliação no ano passado foram respectivamente 50,9%, 44,7% e 75,7%. Os demais dados levantados pela pesquisa são igualmente impressionantes. O número de trechos com pontos críticos – quedas de barreiras, pontes caídas, erosões na pista, buracos grandes – foi de 797. São problemas que representam graves riscos para os usuários, sem falar que encarecem os transportes. O impacto das más condições das rodovias no custo operacional dos veículos – aumento do gasto com manutenção, assim como do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios – é considerável.

O aumento do custo operacional do transporte é, em média, de 28,5%. Ele chega a 91,5% no caso de rodovias em péssimo estado de conservação. Embora estejam em situação bem melhor do que as rodovias geridas pelo poder público, o estado das concedidas a empresas privadas também piorou. Em 2019, 25,3% de sua extensão foi classificada como regular, ruim ou péssima e 74% de sua malha, como boa ou ótima. No ano passado, os números foram 18,1% para a avaliação negativa e 81,9% para a positiva. Mesmo assim, a qualidade superior das rodovias geridas pela iniciativa privada fica evidente no fato de que as 10 melhores ligações rodoviárias do País passam por São Paulo e estão todas nessa categoria.

O preço que se paga por esse quadro desanimador, bem retratado pela pesquisa da CNT, é muito alto. Neste ano, o País desperdiçará, pelos cálculos da CNT, mais de 900 bilhões de litros de diesel, o que representará um custo adicional de R$ 3,3 bilhões para os transportadores, que certamente os repassarão a seus clientes, o que aumentará o preço dos produtos. Sairá prejudicado também o meio ambiente, pois se prevê uma emissão de mais 2,46 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2).

Muito elevados também são os gastos com os acidentes. Morreram no ano passado em acidentes de trânsito – muitos dos quais devido às más condições das rodovias – 5.269 pessoas e outras 76.525 ficaram feridas. Os gastos acarretados por essa verdadeira tragédia são estimados em R$ 9,73 bilhões. Nessa estimativa foram considerados prejuízos com veículos, cargas e despesas médico-hospitalares. Reverter esse quadro será muito difícil. A CNT calcula que é necessário investimento de R$ 38,6 bilhões para a restauração e reconstrução das rodovias brasileiras.

Em meio à crise em que ainda se debate o País, não será fácil levantar tal volume de recursos, ao menos a curto prazo. Uma medida dessa dificuldade é dada pela pesquisa CNT. Ela indica que o governo nem ao menos investe em rodovias a totalidade dos recursos autorizados. Em 2018 foram investidos R$ 7,48 bilhões, dos quais R$ 2,75 bilhões de restos a pagar. Até setembro deste ano, foram executados R$ 4,78 bilhões dos R$ 6,20 bilhões autorizados.

Nesse ritmo, o valor investido tende a ser inferior ao de 2018. Outro dado é que o crescimento da frota de veículos tem sido bem mais rápido que o da malha rodoviária. Ou seja, há cada vez mais veículos circulando por um número pouco maior de rodovias, o que significa que elas são mais solicitadas e, consequentemente, sofrem maior desgaste.

 

FONTE OPINIÃO ESTADÃO